Brasil pode gerar até 760 mil empregos em bioenergia até 2030, segundo estudo

Um novo levantamento da Schneider Electric, em parceria com a consultoria Systemiq, aponta que o Brasil tem potencial para criar 760 mil novos postos de trabalho no setor de bioenergia até 2030, o que representaria um aumento de 63% em relação ao nível atual. Segundo o estudo “Shaping Brazil’s Workforce for a De-fossilized Economy”, esse crescimento pode posicionar o país como líder global na produção de combustíveis renováveis, como etanol, biodiesel, biometano e SAF (combustível sustentável de aviação).

Atualmente, o Brasil já é responsável por cerca de 26% da força de trabalho mundial em bioenergia, com 1,16 milhão de pessoas envolvidas nas cadeias de produção agrícola, nas plantas industriais e na logística.

Rumo a uma economia descarbonizada

O estudo aponta que, mesmo em cenários de forte eletrificação global, a demanda por “moléculas de carbono” permanecerá relevante em setores difíceis de descarbonizar, como aviação, transporte marítimo e algumas indústrias. Nesse contexto, a bioenergia é vista como componente estratégico da matriz energética futura: estima-se que sua participação na matriz global possa subir de 7% para cerca de 18% até 2050.

O relatório também destaca que o Brasil tem vantagem competitiva para liderar essa transição devido à sua base agrícola robusta e extensas áreas degradadas que podem ser usadas para produção de biomassa. Esse processo não apenas reduziria emissões, mas também geraria renda no campo e fortaleceria cadeias produtivas locais

Desafio da qualificação profissional

Apesar das oportunidades, o estudo identifica uma lacuna importante: 450 mil profissionais precisariam ser qualificados até 2030 para atender à demanda esperada. Desse total, 75 mil técnicos e engenheiros devem passar por treinamento em automação, eletrificação e rastreabilidade de carbono. Outros 380 mil trabalhadores necessitariam de reciclagem técnica, especialmente em áreas agrícolas e de logística.

Entre as competências emergentes destacadas pelo relatório estão controle industrial e automação, segurança cibernética operacional, eficiência energética e rastreamento de emissões de carbono.

Impacto econômico na cadeia de bioenergia

O estudo prevê que o crescimento em bioenergia impactará toda a cadeia produtiva. Na produção de biomassa, poderão surgir até 530 mil novas vagas diretas, com impacto estimado de US$ 21 bilhões a US$ 40 bilhões no PIB brasileiro. Já na indústria, são esperados cerca de 170 mil empregos diretos e 480 mil indiretos, contribuindo com cerca de US$ 13 bilhões. A logística ligada ao setor também deve crescer, com cerca de 34 mil novos postos de trabalho e movimentação de aproximadamente US$ 700 milhões em valor.

O estudo destaca ainda o papel da automação, da conectividade e de tecnologias de monitoramento inteligente para elevar a competitividade do setor, reduzir perdas e aumentar a eficiência operacional.

Estratégia de implementação

Para alcançar esse crescimento, as empresas propõem um plano de ação em três fases:

  1. Curto prazo: programas de capacitação corporativa, academias de formação e certificações modulares para operadores e técnicos.
  2. Médio prazo: integração entre empresas, governos e instituições de ensino para criar observatórios de competências e certificações verdes.
  3. Longo prazo: reforma nos currículos da educação técnica e superior, incorporando habilidades digitais, industriais e de sustentabilidade.

O estudo cita como boas práticas iniciativas como os cursos tecnológicos do SENAI e a plataforma Open Talent Market da Schneider, que usa IA para conectar talentos a projetos de sustentabilidade.

Além disso, ele reforça que a bioenergia pode ser um motor significativo para uma transição energética justa no Brasil, gerando emprego, inovação e desenvolvimento regional, desde que haja investimentos estratégicos em qualificação profissional e políticas públicas alinhadas a uma economia de baixo carbono.

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