Carlos Clur

Quando se fala em feira de negócios, muita gente imagina corredores frios e estandes sisudos. Mas quem visita a Eletrolar Show All Connected logo percebe que é diferente. O evento é um ecossistema vivo, que se reinventa a cada edição e aponta o futuro do varejo de bens duráveis, tecnologia, eletroeletrônicos e muito mais.

Por trás dessa transformação está Carlos Clur, CEO do Grupo Eletrolar All Connected. Argentino de nascimento e brasileiro de coração, ele transformou um projeto que começou com uma revista há quase três décadas no maior evento de eletroeletrônicos da América Latina.

A 19ª edição, em 2026, trará novidades, como o pavilhão Future Mobility, com test drives de veículos elétricos no Sambódromo do Anhembi; a Interior Lifestyle South America, em parceria com a gigante Ambiente, da Messe Frankfurt; a Aircon, voltada à climatização; além da Expo Ferretera (ferramentas e construção), Lighting Show (iluminação industrial), Máquinas & Componentes (indústria de transformação) e Global Supplier (fornecedores globais). Tudo isso somado a congressos de IA e IoT no Distrito Anhembi.

O Grupo também prepara o Congress Brazil Mobile (CBM), em março, e avança na internacionalização com a Electronics Home na Argentina e no México. Em entrevista, Carlos fala sobre integrar cada vez mais o mercado latino-americano, a explosão da eletromobilidade e o crescimento da Eletrolar Show, que deixou de ser só uma feira para virar um distrito de inovação all connected.

A ELETROLAR SHOW JÁ ERA A MAIOR FEIRA DE ELETROELETRÔNICOS DA AMÉRICA LATINA. AGORA VOCÊS FALAM EM SE TORNAR A MAIOR FEIRA DE BENS DURÁVEIS. QUAL É A DIFERENÇA?

A diferença é que estamos abrindo o leque. Continuamos líderes em eletroeletrônicos, mas queremos ser multissetoriais, trazer novas categorias e criar um grande ponto de encontro para todo o varejo. Passamos a falar de celulares, ar-condicionado, utilidades domésticas, móveis, arquitetura, ferramentas. A ideia é transformar o evento em um showroom de 100 mil m², onde o varejista encontrará de tudo.

O QUE EXATAMENTE É O ESPAÇO FUTURE MOBILITY? QUAL É A IDEIA POR TRÁS DELE?

É um dos braços que mais cresceram. Começou como Eletrocar Show, virou Future Mobility e, na Eletrolar Show 2026, irá ocupar um hall inteiro só para eletromobilidade. Estamos falando de carros, motos, bicicletas elétricas, híbridos – e, se aparecer carro voador, vai estar lá também! Além da exposição, teremos o Sambódromo como pista de test drive. Isso traz experiência real para o público B2B, que precisa entender como a tecnologia funciona na prática.

OS NÚMEROS MOSTRAM QUE O SETOR DE MOBILIDADE ELÉTRICA ESTÁ DECOLANDO?

Muito. Em 2024, foram vendidas 175 mil unidades de carros elétricos e híbridos no Brasil, e a previsão para 2025 é chegar a 200 mil. Só em infraestrutura, estamos falando de um mercado que deve movimentar R$ 445 bilhões, mais R$ 85 bilhões em componentes. É gigantesco. E o interessante é que cada “dor” da infraestrutura gera um novo negócio: carregadores, baterias, peças, software.

COMO O UNIVERSO DA DECORAÇÃO ENTROU NO ECOSSISTEMA?

Fizemos uma parceria com a Messe Frankfurt, que organiza a maior feira de utilidades domésticas do mundo, a Ambiente. Assim nasceu a Interior Lifestyle South America. Ela conecta empresas de presentes, decoração, design e eletrodomésticos high-end. Para a 2ª edição, que acontecerá simultaneamente à Eletrolar Show 2026, já temos até uma embaixadora: a arquiteta Cris Paola. É outro universo, mas que conversa com o mesmo consumidor.

OUTRA NOVIDADE É O CONGRESS BRAZIL MOBILE, O CBM. QUAL É A PROPOSTA?

Os celulares são os aparelhos mais vendidos dentro dos varejistas brasileiros. Temos mais smartphones ativos que habitantes! E junto vem uma legião de pequenos varejistas que vivem de vender capinhas, cabos, acessórios. O CBM é um evento à parte, que nasceu para eles. É um congresso focado em gestão e vendas para esse público, realizado em março, sempre duas semanas depois do MWC, que acontece em Barcelona e é o maior evento do mundo para esse setor. Assim, conseguimos trazer as tendências internacionais para o Brasil.

VOCÊ FALA EM INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA. COMO ISSO ACONTECE NA PRÁTICA?

Em junho, realizamos a quinta edição da Electronics Home em Buenos Aires, reunindo 400 marcas e mais de 1.500 produtos. Também estreamos a feira na Cidade do México, que superou as expectativas com a exposição de mil marcas e mais de 5 mil produtos. Assim, estamos posicionados nos três maiores mercados da região. A proposta da internacionalização é integrar empresários de toda a América Latina, gerando negócios de exportação, joint ventures e parcerias. O Brasil é o maior mercado, mas não podemos pensar só nele. Quando ampliamos o alcance, todos ganham.

VOCÊ COMEÇOU COM UMA REVISTA E HOJE TEM UM ECOSSISTEMA DE EVENTOS, MÍDIA, CONGRESSOS. COMO FOI ESSA EVOLUÇÃO?

Meu pai trabalhava no setor e eu cresci cercado de lançamentos de TVs, cafeteiras, eletroportáteis. Em 1996, criamos nossa primeira revista na Argentina. Depois, em 1999, lançamos no Brasil a Eletrolar News, primeiro veículo de comunicação impresso dirigido exclusivamente ao setor eletroeletrônico, e, em 2005, realizamos a Eletrolar Show. De lá para cá, a ideia só cresceu. Hoje somos plataforma 360: revista, site, podcast, redes sociais, eventos paralelos e feiras internacionais. O expositor não tem só o chão da feira: tem mídia, tem influência, tem conexão o ano inteiro.

A FEIRA SEMPRE FOI B2B, MAS AGORA VOCÊS FALAM EM B2B2C. O QUE ISSO SIGNIFICA?

Significa que continuamos focados no trade, mas ampliamos o impacto. Em 2025, tivemos Celso Portiolli como embaixador, dezenas de influenciadores e milhões de views nas redes. Ou seja, o consumidor final também vê os lançamentos em primeira mão. Isso gera desejo, cria mercado e fortalece as marcas. É o B2B ganhando impulso na comunicação B2C.

OUTRO DIFERENCIAL É O PROGRAMA DE COMPRADORES VIP. COMO FUNCIONA?

Começou em 2008, quando trouxemos 100 compradores do Brasil inteiro para a Eletrolar Show. Hoje, trazemos mais de mil, com passagem e hospedagem inclusas. É um “mimo” para o varejo e uma garantia para o expositor, que já entra na feira sabendo que vai encontrar decisores de todos os estados do Brasil.

A FEIRA TAMBÉM VIROU UMA EXPERIÊNCIA DIVERTIDA PARA O PÚBLICO, CERTO?

Sim! Tivemos uma experiência em que o público podia pegar um celular de R$ 20 mil e bater um prego com a tela dele – sem quebrar! Teve carro híbrido nacional sendo lançado, test drives, shows, ativações. Queremos que seja um evento gostoso de visitar, além de produtivo. Porque, no fim, todo mundo é consumidor também. Se conseguirmos encantar o público e, ao mesmo tempo, gerar negócios bilionários, então estamos no caminho certo.

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