Pleno emprego, escassez de mão de obra e o novo desafio do empresário do atacado

Ronaldo Jamar Taboada, presidente do Conselho do Comércio Atacadista da Federação do Comércio, Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)

Ronaldo Jamar Taboada, presidente do Conselho do Comércio Atacadista da Federação do Comércio, Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)

O Brasil vive um momento histórico: a taxa de desemprego caiu para 5,8% no segundo trimestre de 2025, o menor nível já registrado. O comércio atacadista confirma esse aquecimento, com saldos positivos de vagas em todos os segmentos, com destaque para os de produtos de consumo não alimentar (3.196) e produtos alimentícios (2.088).

No entanto, para os empresários, esses números não podem ser interpretados de forma simplista. O dinamismo na geração de empregos vem acompanhado de uma preocupação estrutural — a dificuldade crescente de contratar e reter profissionais. Em setores de alta tecnologia, por exemplo, o saldo de vagas foi mínimo (254), reflexo da escassez de mão de obra qualificada.

O impasse, agora, não é apenas vender mais, mas montar e manter equipes capazes de sustentar o crescimento. A rotatividade se tornou um gargalo. O tempo médio de permanência caiu 7% no atacado paulista entre 2015 e 2024, chegando a menos 15% entre jovens de 15 a 24 anos. Em materiais de construção, a redução foi ainda maior (menos 22%). Além disso, a participação dos mais novos no total de vínculos encolheu de 22% para 17%. Essa queda reforça o desinteresse das novas gerações pelo setor e eleva a pressão por salários e benefícios. Entre 2021 e 2024, a remuneração média cresceu 5% acima da inflação, comprimindo margens.

Diante dessa situação, as empresas terão de investir em retenção, com planos de carreira, ambientes de trabalho atrativos e capacitação interna, formando profissionais do zero, se necessário. Também será importante aumentar a eficiência por meio de tecnologia e treinamento. O pleno emprego, antes símbolo de vitória, agora impõe ao atacado o maior dos desafios: vencer a guerra por talentos e transformar a gestão de pessoas em diferencial competitivo.

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