A geração global de energia vive um marco histórico. Pela primeira vez, as fontes renováveis superaram o carvão na produção de eletricidade. Segundo uma nova análise da Ember, think tank especializado em energia, solar e eólica não apenas acompanharam o crescimento da demanda global no primeiro semestre de 2025, elas ultrapassaram esse avanço, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis.
De acordo com o levantamento publicado na Electrek, a demanda mundial de eletricidade cresceu 2,6% no período, o equivalente a 369 TWh adicionais em relação ao ano anterior. A energia solar respondeu por 83% desse aumento, adicionando 306 TWh à matriz global, um salto de 31% em um ano. Com o reforço da geração eólica, as fontes limpas conseguiram atender ao crescimento da demanda e ainda reduzir o uso de carvão e gás natural.
A geração a carvão caiu 0,6% (-31 TWh), enquanto o gás natural recuou 0,2% (-6 TWh). No total, a geração fóssil mundial diminuiu 0,3%, o que levou a uma queda de 0,2% nas emissões globais do setor elétrico.
As fontes renováveis geraram 5.072 TWh no primeiro semestre de 2025 — ante 4.709 TWh no mesmo período do ano passado. Já o carvão produziu 4.896 TWh, recuando 31 TWh. É a primeira vez na história que as energias limpas ultrapassam o carvão em volume de geração.
Um ponto de virada global
O avanço marca o início de uma nova fase na transição energética. “Estamos vendo os primeiros sinais de um ponto de virada crucial. Solar e eólica estão crescendo rápido o suficiente para atender ao apetite global por eletricidade”, afirmou Małgorzata Wiatros-Motyka, analista sênior da Ember.
A tendência, segundo o estudo, é de aceleração. À medida que novos projetos entram em operação, as renováveis devem continuar superando o crescimento da demanda, empurrando os combustíveis fósseis para um declínio estrutural.
China e Índia lideram a virada
O avanço, no entanto, não é uniforme em todo o mundo. Entre os quatro maiores mercados globais de energia — China, Índia, Estados Unidos e União Europeia —, dois reduziram a geração fóssil, enquanto dois aumentaram.
A China segue como principal força em energia limpa, instalando mais capacidade solar e eólica que o resto do mundo combinado. No país, a geração fóssil caiu 2% (-58,7 TWh) no primeiro semestre.
Na Índia, o crescimento das renováveis superou o aumento da demanda em três vezes. Com a expansão do consumo desacelerando para 1,3% (+12 TWh), a geração a carvão caiu 3,1% (-22 TWh) e o gás despencou 34% (-7,1 TWh).
Nos Estados Unidos e na União Europeia, o cenário foi oposto. A demanda subiu acima da capacidade de expansão renovável, o que resultou em maior uso de carvão e gás, especialmente na Europa, onde a performance mais fraca da energia eólica e hídrica exigiu reforço térmico.
O que vem a seguir
Segundo a Ember, metade do mundo já ultrapassou o pico da geração fóssil, e o futuro dependerá da velocidade de novos investimentos.
“Solar e eólica não são mais tecnologias marginais — elas estão impulsionando o sistema elétrico global”, afirmou Sonia Dunlop, CEO do Global Solar Council. “O fato de as renováveis terem superado o carvão marca uma mudança histórica. Mas, para consolidar essa virada, governos e empresas precisam acelerar investimentos em energia limpa e armazenamento.”
Com custos tecnológicos em queda e ganhos econômicos e ambientais cada vez mais evidentes, o relatório indica que o mundo está mais próximo de uma matriz elétrica dominada por energia limpa — e com impacto direto nas metas de descarbonização global.